REVIEW | DISHONORED

Atualmente, muito se fala de que os jogos em primeira pessoa caíram no marasmo, tratando sempre de guerras modernas com armas mirabolantes e situações inusitadas e exageradas, contrariando o game que surgiu na alvorada da atual geração de consoles, o cult Mirror’s Edge da Eletronic Arts. No ano de 2012 observamos muitos lançamentos de peso, tais como, Sleeping Dogs, Dark Souls II, Resident Evil 6, Borderlands 2,  Assassin’s Cred III e entre outros, mas a boa surpresa foi poder contemplar Dishonored, da Arkane Studios, um jogo em primeira pessoa que merece ser prestigiado – por mais de uma vez.

NOVA PERSPECTIVA EM PRIMEIRA PESSOA

A Arkane Studios nos últimos anos veio cooperando com desenvolvimento de jogos de outros estúdios, assumindo a parte de design e animação. Em meados de 2011, a Bethesda revelou ao mundo o que estava por vir, tratava-se de Dishonored, o terceiro game da Arkane. De lá pra cá, o jogo tornou-se polêmico por não derivar de uma franquia, por ter sua data lançamento próxima a chegada dos “bons de briga” quando se fala de FPSs (Medal of Honor: Warfighter e Call of Duty Black Ops 2) e por ser conceitualmente o oposto destes gigantes dos jogos em primeira pessoa.

Dishonored herdou tudo o que há de melhor de seus antecessores – BioShock, Thief, Deus Ex e Half-Life 2 – e deu um passo a frente garantindo a si uma identidade própria, provando que o gênero não tem o “porquê” de beber exaustivamente da mesma fonte de conflitos internacionais apoiados em alta tecnologia e ação frenética quando há um mar de possibilidades a ser explorado.

TROCAR O CERTO PELO DUVIDOSO ÀS VEZES PODE VALER A PENA

OK. A indústria de videogames, antes de qualquer coisa, visa lucros assim como qualquer outro ramo comercial, sendo justificável o investimento em jogos e gêneros que já têm a simpatia do grande público, pois a certeza de retorno é maior. Isso também explica o motivo da tendência de remakes, reboots e versões HD de jogos e séries consagradas. Mas, felizmente, no circuito comercial também há produtoras que por vez pensam “fora do quadrado” e se arriscam rompendo a barreira da mesmice e nos contemplam com jogos como Dishonored.

OBRA DE ARTE NO MELHOR ESTILO STEAMPUNK

Esteticamente, o game da Arkane Studios é bonito, traz gráficos competentes, dentro do que a Unreal Engne 3 ainda pode oferecer, com visual levemente exagerado que acentua as características dos personagens, além de bons efeitos visuais e filtros que tornam tudo ainda mais belo, lembrando uma pintura no estilo barroco. Contudo, mesmo com o capricho por parte da Arkane, o motor gráfico utilizado na produção do jogo não se mostra mais a melhor opção para modelar games em primeira pessoa, principalmente se o compararmos graficamente com Battlefield 3, por exemplo. Claro que não é nada que afete a experiência, mas a diferença existe e é notada em algumas texturas de baixa resolução.


Entretanto, o forte de Dishonored é Dunwall, a metrópole que ambienta o jogo e que é fortemente inspirada no estilo steampunk. Grosso modo, o steam (vapor em inglês) é um subgênero da ficção científica ambientado normalmente no passado fazendo referência a Era Vitoriana na Inglaterra do século XIX em meio a Revolução Industrial, as Crises Internacionais e tendo os primeiros passos nos campos da eletricidade. O estilo também é baseado nas obras Julio Verne e Mark Twain, onde a tecnologia não se desenvolveu por meio da eletricidade ou microchips, mas em função da mecânica a vapor e de engrenagens, desenvolvendo esse universo a níveis improváveis, preenchido com automóveis, aviões, dirigíveis e até mesmo robôs, todos dependentes desse tipo de mecanismo.

DUNWALL, A METRÓPOLE

A cidade virtual de Dunwall é bem construída e dividida em vários distritos que, caso sejam bem explorados pelo jogador, evidenciam detalhes interessantes sobre o universo do jogo. Além disso, a sensação de imersão é fantástica, a metrópole parece ter sido mesmo assolada por uma praga e tudo dentro dela age de acordo com esse infortúnio. Não são poucas as vezes que o jogador se depara com cadáveres largados em becos e esquinas da cidade, que também é oprimida por um governo militarista.

JOGABILIDADE E SISTEMA DE DECISÃO, O CASAL PERFEITO

A jogabilidade supre o combate direto, que permite ao jogador sair dilacerando suas vitimas como uma desenfreada máquina de matar – muito habilidosa -, mas também incentiva fortemente a ação furtiva, premiando os jogadores mais sorrateiros que não vêem a morte do inimigo como a resolução de um problema, já que é possível superar o jogo sem mortes desnecessárias. Ou seja, a lei aqui é a liberdade limitada apenas pela criatividade de quem está no controle, pois Corvo, o protagonista, dispõe de muito meios para avançar em sua jornada, tais como pistolas, magias, dardos com soníferos, carabinas, invocação de ratos, tele-transporte a curta distancia e possessão.

O game também conta com um sistema de escolhas morais que influencia diretamente no desenvolvimento da trama. Isso se origina na motivação do personagem principal que tem a necessidade de provar sua inocência, pois foi acusado injustamente de ser responsável pelo assassinato da Imperatriz que ele mesmo deveria proteger. A partir daí cabe ao jogador no decorrer da trama escolher qual caminho seguir, a vingança ou da justiça. Esse sistema é percebido quando há uma situação em que antes de ser resolvida é preciso avaliar o contexto que a envolve, em outras palavras, ponderar e encontrar a melhor saída para não se ver obrigado tomar decisões ruins.

É incrível como a jogabilidade e o sistema de decisões funciona perfeitamente, uma vez que o jogo em si não determina como deva ser jogado. Não importa o estilo de jogo que seja adotado, Dishonored se adéqua e traz consequências pertinentes ao perfil do jogador. Se o caminho a ser seguido for “pé na porta e soco na cara” é possível terminar o game em seis ou sete horas, mas o jogo não é aproveitado em sua totalidade. Contudo, se o caminho for o da paciência, há muito que descobrir e aprender e mesmo que se jogue uma segunda vez nem tudo será descoberto, seja nos detalhes da trama ou sobre o sistema de jogo.

SOM? OK! DUBLAGEM? OK! PROTAGONISTA? É MUDO...

Infelizmente, nem tudo são flores no game. Embora o jogo tenha bons efeitos sonoros e personagens bem desenvolvidos – que carregam um ótimo trabalho de dublagem – Dishonored tem como seu calcanhar de Aquiles o protagonista. Corvo é mudo e isso é controverso no jogo. Se por um lado temos um personagem central que é pouco envolvente, por outro o mesmo muitas vezes sede seu lugar ao jogador que inconscientemente assume suas motivações, mesmo que durante a trama quase nada sobre ele é desenvolvido e nem sua origem é mencionada – o que pode aumentar a lacuna entre gamer e protagonista.

O DIFERENCIAL VALE A JOGATINA

Dishonored é uma agradável surpresa meio a tantos jogos em primeira pessoa que invadem o mercado e uma novidade bem vida no final dessa geração de consoles, por isso merece ser apreciado, não importando o estilo de jogo que cada um tem, já que a sensação de liberdade é constante e limitada apenas pela trama. Visualmente é muito agradável, mesmo com alguns problemas com texturização. E apesar de Corvo ser pouco envolvente, Dunwall supre isso muito bem, lembrando o tempo todo que algo muito ruim acontece ali.


ANTES DE DISHONORED

Para promover o lançamento de Dishonored, a Bethesda e a Arkane divulgaram uma mini-série animada que narra em três vídeos os eventos que antecedem o game. No primeiro capítulo, intitulado The Awakening, é apresentado o universo de Dunwall, que está à beira de transformar-se na distopia que está presente no game:



The Hand that Feeds é o episódio que aborda as vantagens e desvantagens das habilidades sobrenaturais:



A derradeira parte traz The Mind of Madness, que apresenta Piero, um personagem importante na trama de Dishonored:



Por Jeferson dos Santos

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