Determinismo ou conveniência a parte, as razões da ação carecem de respostas, mas (ou talvez) às vezes as perguntas erradas sejam feitas apenas para ter a resposta mais aceitável dentro de um contexto que foge a naturalidade, pois a verdade não é verdade. A questão é que todos que apontam uma direção não se usam como ponto de referência por auto-preservação ou implícita conivência e é ai que entra Precisamos Falar Sobre o Kevin.
DIFÍCIL SER FILHO DE ALGUÉM QUE NUNCA QUIS SER MÃE
Dirigido por Lynne Ramsay com base no romance de Lionel Shriver, o filme retrata a história de Eva (Tilda Swinton), uma mulher que tenta ao máximo ser uma mãe exemplar e isso é notável em sua auto-exigência ao fazê-lo, contudo também é evidente sua frustração em não ser o que gostaria em função da gravidez indesejada que estabeleceu uma relação conturbada entre ela e seu filho, Kevin, que desde sempre se mostra hostil em resposta a rejeição materna.
Penso que o dialogo a seguir sintetiza a relação de mãe e filho:
Eva: Você nunca desejou um amigo com quem pudesse brincar?O longa-metragem não é linear, as idas e vindas no tempo evidenciam detalhes da relação mãe e filho. As infelicidades de Eva são sinceras nos detalhes, por exemplo, ao parar em frente a uma construção e por alguns segundos prestigiar a ausência do constante choro de Kevin recém-nascido que é suprimido pelo barulho.
Kevin: Não.
Eva: Você pode gostar.
Kevin: E se eu não gostar?
Eva: Você pode se acostumar.
Kevin: Só porque você se acostuma com algo não significa que você gosta. Você se acostumou comigo.
Mesmo criança, Kevin (Jasper Newell) é intolerante a mãe e usa de todos meios para tornar o dia dela mais difícil, seja defecando nas fraudas logo depois de serem tocadas ou fazendo sua pequena irmã vítima de seus bullings. Já na adolescência o garoto (Ezra Miller) segue com os atentados a irmã que são vistos com normalidade aos olhos de seu condescendente pai (John C. Reilly).
QUANDO A MÃE PAGA PELO PECADO DO FILHO
Os pesadelos de Eva são constantemente pontuados com tons de vermelho, talvez sinalizando a calamidade que está por vir em diversos momentos do filme. A exemplo, sua casa vandalizada pela vizinhança que a culpa por algo que aos poucos, mesmo sem querer, vamos deduzindo do que se trata. Em outro momento, ao passar no caixa do mercado Eva percebe que sua compra foi danificada deliberadamente por um dos clientes.
A ESCOLHA CERTA GARANTE BONS RESULTADOS
O elenco de Precisamos Falar Sobre o Kevin é incrível. Tilda Swinton assume toda amargura por ser vítima de seu circulo social ao mesmo tempo que não esconde a frustração da personagem em não criar um vínculo natural com seu filho. Como Kevin, Ezra Miller diminui de forma correta o potencial negativo de seu papel equilibrando o "carismático" e o "repulsivo", que desde criança esboça uma ação final contra sua mãe.
CONSIDERAÇÕES
O longa de Lynne Ramsay aborda o lado da questão que todos se recusam falar ou até mesmo pensar, pois o elo de mãe e filho é quimicamente sagrado e incontestável, logo não pode ser responsabilizado por nada de ruim que aconteça. Determinismo ou conveniência a parte, eis um filme que merece ser visto.
AVALIAÇÃO: Ótimo
FICHA TÉCNICA
TÍTULO ORIGINAL: We Need to Talk About Kevin
GÊNERO: Drama, Thriller
ORIGEM: EUA e Reino Unido
ANO: 2011
DIREÇÃO: Lynne Ramsay
ROTEIRO: Lynne Ramsay
ELENCO PRINCIPAL: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller e Jasper Newell
Confiram o trailer de Precisamos Falar Sobre o Kevin:
Por Jeferson dos Santos
0 comentários:
Postar um comentário
Comente, discuta, opine sobre o filme e a postagem de forma saudável.
Curta. Compartilhe. Divulgue. Divirta-se.