SE LIGANDO | A HISTÓRIA DO MANGÁ


Olhos grandes e expressivos, cabelos estilizados e coloridos, prantos em forma de cachoeira, mascotes fofinhos e robôs gigantes. Assim é o mangá, com características inconfundíveis e inegáveis, que configuram fortemente a história da arte sequencial  Pois já faz parte da cultura pop contemporânea e mesmo que centralizada no Japão, o estilo não vê obstáculos para se disseminar e conquistar cada vez mais adeptos de sua forma singular de narrar histórias.

Pokémon, Dragon Ball, Os Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho e Naruto são exemplos de que mesmo quem não é fã de mangá já ouviu falar de uma dessas obras. Isso se deve ao fato de que os quadrinhos japoneses são os que mais crescem no mundo atualmente e são responsáveis pelo desenvolvimento de uma verdadeira indústria do entretenimento, que inclui animês (desenhos animados normalmente baseados nos mangás), videogames, hot toys (figuras de ação), animesongs (música tema de animês), live-action e filmes para o cinema.

A palavra “mangá” possivelmente deriva de “Hokusai Manga”, nome de uma coleção de gravuras do famoso artista japonês do período Edo (1603-1868), Katsushika Hokusai (1760-1849). “Hokusai Manga” é uma série de estudos de movimentos e expressões que o artista fez durantes trinta seis vistas ao Monte Fuji. Essas visitas renderam quarenta e seis gravuras e entre elas está a obras mais famosa de Katsushika, A grande onda de Kanagawa.

Curiosamente, depois do falecimento de Katsushika, cópias de suas gravuras foram trazidas para o ocidente e Felix Bracquemont (1833-1914), que foi um importante intermediário entre a cultura oriental e ocidental, descobriu páginas do acervo de “Hokusai Manga” servindo com proteção para cerâmicas japonesas em um mercado na França.

Katsuhika Hokusai influenciou fortemente movimentos artísticos na Europa como o impressionismo, pós-impressionismo e art nouveau. Esta influência é dado o nome de japonismo, mas o que poucas pessoas sabem é que entre os grandes artistas ocidentais que sucumbiram ao japonismo estão Claude Monet (1840-1926), Van Gogh (1853-1890), Edgar Degas (1834-1917), Carolus Duran (1837-1917), Alice Millet Rousseau (1886-1919), Paul Gauguin (1848-1903), entre muitos outros.

Muitos anos mais tarde, sob ocupação americana após a Segunda Guerra Mundial, os mangakas, como os desenhistas japoneses são conhecidos, sofreram grande influência das histórias em quadrinhos ocidentais da época, que eram traduzidas e difundidas em grandes quantidades na imprensa cotidiana. É então que um artista influenciado por Walt Disney (1901-1966) e Max Fleischer (1833-1972) revoluciona esta forma de expressão e dá vida ao mangá moderno, seu nome é Osamu Tezuka (1928-1989).

Osamu Tezuka
Tezuka foi quem introduziu com exatidão movimentos aos desenhos através de efeitos gráficos, como linhas que dão a impressão de velocidade e onomatopéias que substituem as sonoplastias e se integram a arte, destacando todas as ações que comportam o movimento em si e, acima de tudo, ele adequou a alternância de planos e de enquadramentos como os usados no cinema. E a narrativa das histórias ficaram mais longas, passando a ser divididas em capítulos.

Em 1963, Tezuka em seu estúdio Mushi Production, criou a primeira série de animação para a televisão japonesa, Astro Boy.  Tezuka é considerado como o “deus do desenho japonês” e entre as suas obras mais famosas estão Kimba, o Leão Branco e A Princesa e o Cavaleiro, ambos clássicos incontestáveis.

Essas obras revolucionaram as histórias em quadrinhos no mundo todo ao criar uma nova forma de narrativa, que usava ângulos com um dinamismo até então nunca vistos, ritmo cinematográfico e uma particularidade ao transmitir as emoções de seus personagens em toda sua complexidade, isso, através do olhar.

No mangá, tudo pode ser dito com um olhar, pois olhos são os principais veículos expressivos das emoções dos personagens, e isso justifica facilmente os olhos grandes deste estilo de desenho. Mas ao contrário do que muitos pensam, também existem mangás com olhos pequenos. E essa variação é reflexo de que os autores imprimem seu próprio estilo de desenho às histórias, desvirtuando o que até então era visto preconceituosamente como um padrão, negativo, do mangá.

O "boom" dos mangás no Brasil aconteceu por volta de dezembro oo ano 2000, com o lançamento dos títulos Samurai X, Dragon Ball e Os Cavaleiros do Zodíaco pelas editoras JBC e a Conrad (antiga Editora Sampa). Porém, esses não foram os primeiros a chegar ao território tupiniquim.

Alguns clássicos foram publicados nos anos 80 e no começo dos anos 90 sem tanto destaque, assim como Lobo Solitário pela Editora Cedibra, Akira pela Editora Globo, Crying Freeman pela Editora Sampa, A Lenda de Kamui e Mai - Garota Sensitiva pela Editora Abril, Cobra, Baoh e Escola de Ninjas pela Dealer. Porém, a publicação de vários desses títulos foi interrompida e o público brasileiro ficou sem os mangás traduzidos por vários anos.

Mas, sendo mais específico, foi um animê que abriu as portas definitivamente para a invasão dos quadrinhos nipônicos no Brasil, Os Cavaleiros do Zodíaco. Esse abre-alas foi exibido há cerca de dezoito anos na saudosa TV Manchete. A mesma emissora, na época, trouxe ao Brasil outros clássicos tais como Shurato, Samurai Warriors, Super campeões, US Manga e Yu Yu Hakusho.

Para os japoneses, as histórias em quadrinhos é uma leitura comum e de faixa etária bem abrangente. Socialmente falando, os japônicos são ávidos por leitura e em toda parte se vê desde adultos até crianças lendo os mangás. O público-consumidor é muito extenso e as tiragens dos quadrinhos japoneses são na casa dos milhões, fazendo-se necessário o desenvolvimento de vários estilos para agradar a todos os gostos. Por isso os mangás são classificados de acordo com o publico alvo:

Shojo: Mangá de gênero adolescente voltado ao publico feminino.
Shonen: Mangá de gênero adolescente voltado ao publico masculino.
Gekigá: Mangá de gênero dramático voltado ao público adulto.
Mecha: Mangá sobre veículos e robôs gigantes.
Yuri (Lésbico) e Yaoi (Gay): Abordam a homossexualidade sem, necessariamente, fazer menção sexo.
Hentai: Pornográfico, basicamente.

Outra revolução por parte do mangá é que eles trouxeram as mulheres para o mercado das HQs, tanto como personagens centrais nas histórias quanto autoras de publicações consagradas. Talvez por isso, muitos acreditam que esses eventos tenham ofuscado os quadrinhos americanos mundo a fora, o que não é verdade.

O mangá se auto-promoveu devido à identificação do publico com sua expressividade e a sua dinâmica na hora de contar uma história e isso também influenciou positivamente as HQs estadunidenses, fazendo com que seus quadrinistas revissem seus conceitos referente à narrativa, ao estilo e aos traços de suas obras, buscando também o aprofundamento na personalidade de suas criações, e entre outros fatores relevantes a linguagem da nona arte.

P.S.:

A troca de informações entre os estilos, ocidental e oriental, não é recente, mas hoje é evidente graças à globalização cultural e com o auxílio da internet, que difundi tudo em tempo real por ser uma “via de mão dupla”.

Mas, ainda resta acabar com o preconceito e a tosca rivalidade ente os fanboys de cada lado (mangás e HQs), que confundem gosto, que é subjetivo e não-discutível, com ideologia que é contestável, se feito de forma inteligente e saudável sem a necessidade de abrir mão do gosto pessoal.

Por Jeferson dos Santos

0 comentários:

Postar um comentário


Comente, discuta, opine sobre o filme e a postagem de forma saudável.

Curta. Compartilhe. Divulgue. Divirta-se.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...