REVIEW | RESIDENT EVIL 6

Quando Resident Evil 4 foi lançado, em janeiro de 2005, para a geração passada de consoles, foi um divisor de águas, pois abria mão do gênero survival horror para admitir uma jogabilidade de ação, além de seus quebra-cabeças serem  de soluções fáceis não pedindo muito raciocínio ao jogador. Isso, na época, gerou polêmica, já que os fãs mais "xiitas" da série torceram o nariz para mudança enquanto esse novo estilo chamava a atenção de novos seguidores para a franquia mais rentável da Capcom. De qualquer forma, RE4 se firmou um excelente jogo, sendofeliz em tudo o que propunha fazer.

Resident Evil 5 foi lançado em março de 2009 para a atual geração de consoles e foi ainda mais polêmico, pois a jogatina se passava durante o dia, o que para alguns diminuiria ainda mais a sensação de terror e evidenciaria demasiadamente o caráter de ação adotado no game anterior. Isso tornou-se um fato, e mesmo assim não há como negar que RE5 é um ótimo jogo, mesmo estando ainda mais distante de suas origens, dando lugar à ação com uma jogabilidade voltada para o combate - com gráficos belíssimos e cheio de detalhes e contrastes, sendo bem referenciados até os dias de hoje.

Agora, em 2012, a Capcom novamente subverte praticamente tudo o que já foi estabelecido. Ao mesmo tempo em que tenta ser saudosista em relação aos primórdios de sua franquia trazendo de volta terror, Resident Evil 6 também se foca na ação e no combate, trazendo uma trama que se passa em diversa localidade ao redor do mundo, agregando a si personagens consagrados e campanhas essencialmente distintas - provando por A+B que este não é só o Resident mais ousado, mas é o maior projeto da produtora japonesa.

O ponto forte de RE6 é o conteúdo. De longe é o maior jogo da série se somado as suas cutscenes. De cara, o game apresenta três campanhas onde cada uma é dividida em cinco capítulos de até uma hora e meia cada. Individualmente, as campanhas trazem enredos e climas diferentes, dando a impressão de serem, de fato, jogos distintos.

A produtora japonesa também acerta em cheio na escolha do elenco que compõe o game, pois aqui vemos muitos personagens queridos na mitologia de Resident Evil, tais como Chris, Leon, Ada e Sherry. O jogo também apresenta novatos que se revelam boas surpresas ao longo do gameplay.

Resident 6 é reflexo de um grande esforço por parte da Capcom em agradar os fãs brasileiros, pois é primeiro jogo da série legendada em português do Brasil. Tal esforço se mostra tão competente quanto ingênuo, uma vez que trás alguns erros ortográficos e algumas traduções literais que ficariam melhores se fossem adaptadas. Contudo, essa parte textual não vem a ser um ponto que atrapalhe o entendimento da trama, mas revela uma pequena falta de atenção.

RE6 traz bons gráficos, com protagonistas bem detalhados e uma enorme variedade de inimigos grotescos e cenários muito bem construídos. Mas, visualmente ainda não há nada de novo ou excepcional. Muito pelo contrário, há games lançados ano passado que possuem um tratamento gráfico mais bem detalhado. Por exemplo, numa determinada cena Leon aparece ao lado de uma sobrevivente controlada pela I.A. (Inteligência artificial) que parecia ter sido tirada de um jogo do PSOne devido a baixa qualidade da resolução das texturas usadas para compô-la.

A jogabilidade de Resident 6 não é ruim, mas o que  não a torna perfeita é a câmera, que não acompanha a dinâmica da ação, muitas vezes se posicionando em ângulos desconfortáveis num combate corpo-a-corpo, por exemplo. Esse não é um fator definitivo na experiência, mas que deixa a desejar e certamente custará parte da vitalidade do protagonista controlado.

Por falar em jogabilidade, aqui os QTEs (Quick Time Events) também estão presentes e fazem questão de lembrar o jogador disso constantemente a ponto tirar a sensação de liberdade para apertar botões no momento certo. Isso não é só irritante por tirar a imersão do jogo, mas em algumas situações e por alguma falha de programação, os comandos aparecem e desaparecem mais rápido do que o jogador pode reagir, o que também vai custar parte da barra de energia do personagem.

Outra problemática pertinente a programação, é que há momentos em que ao passar ao lado de um zumbi ele não nota a presença do protagonista, mesmo que este pare ao lado do morto-vivo e fique ali por segundos.  Da primeira vez que isso acontece chega a ter certa graça, mas nas demais passa a ser tosto mesmo.

Até seu lançamento, a Capcom  promoveu o jogo como seu maior projeto, com a promessa de homenagear fãs de longa data e agradar os recém chegados a franquia. A produtora acertou na embalagem, mas pecou na formula, pois RE6 atira para todos os lados, por vezes, ficando sem uma identidade própria.  Não que isso torne o que jogo ruim, pois ele não é, mas o deixa abaixo da expectativa que a própria empresa criou em volta de seu produto.

Para quem gosta de um bom jogo de ação com requintes de suspense nos moldes atuais e não se preocupa ou se atenta as visíveis falhas, vai com certeza se deleitar com Resident 6. Entretanto, para os gamers mais experientes ou exigentes, este foi só uma promessa que tem um potencial tão grande quanto os problemas que lhe seguem.

No geral, é, sim, um jogo envolvente que propõem diversas experiências ao jogador e faz boas homenagens e referencias aos seus antecessores dentro de uma trama bem trabalhada e casada com gráficos aceitáveis simulando um clima cinematográfico, o que já é o bastante para torná-lo um titulo indispensável aos fãs da série.

Assista ao trailer de Resident Evil 6:



Por Jeferson dos Santos

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