Não defendo religião, mas advogo a favor da liberdade de cada um acreditar naquilo que é melhor para si, respeitando qualquer um que pense de forma diferente. Entretanto, fica cada vez mais evidente que as pessoas acreditam que Estado Laico é o mesmo que Estado Livre de qualquer religião, quando na real Estado Laico é um Estado neutro a questões religiosas, não apoiando e nem defendendo. Em outras palavras, quando Laico o Estado garante a liberdade e igualdade de seus cidadãos não importando suas orientações religiosas.
E por isso, chega a ser ridículo ver pessoas que defendem tal conceito usarem de intolerância, quando não de preconceito, para atacar de maneira provocativa e leviana a crença alheia e usar a Marcha das Vadias como “desculpa” para isso. Sendo que o movimento, fundamentalmente, defende causas que não implicam em religiosidade.
A Marcha das Vadias (Slut Walk) teve origem no Canadá, onde na Universidade de Toronto houve muitos casos de abusos sexuais no início de 2011. Na época, um policial fez uma infeliz observação sobre os acontecimentos: as mulheres deveriam parar de se vestir como vadias (sluts) para não serem mais vítimas. E foi em abril do mesmo ano que as mulheres foram às ruas protestar contra essa crença absurda.
De qualquer forma, fica a impressão de que, essas pessoas que integraram a Marcha das Vadias durante a estadia do papa em nosso país não querem igualdade ou liberdade e sim supremacia, seja por ego, frustração ou por falta de conhecimento sobre qualquer causa.
Em nota, o coletivo Marcha das Vadias Rio de Janeiro se pronunciou a respeito das imagens destruídas durante o manifesto:
A performance que envolveu quebra de imagens de santas na Marcha das Vadias hoje não foi programada pela organização deste evento. Tínhamos o compromisso com a segurança das pessoas, e fizemos tudo o que esteve ao nosso alcance para garantir isso, seja de quem estava apenas marchando, seja de quem estivesse performando.
Acreditamos e defendemos a liberdade de expressão artística, religiosa, de consciência, de pensamento, de crítica, de vestimenta, e todas as liberdades civis individuais e coletivas garantidas pela Constituição Cidadã de 1988. Entendemos que a Marcha das Vadias do Rio de Janeiro em 2013 foi um total sucesso!
Agradecemos a todas as pessoas que construíram esta marcha, da primeira reunião de organização até o último momento de dispersão hoje, incluindo todas as performances, todos os cartazes, todos os coletivos, partidos, sindicatos, movimentos que ocuparam as ruas hoje para dizer que JÁ BASTA DE VIOLÊNCIA SEXUAL, VIOLÊNCIA DE GÊNERO, MORTES EVITÁVEIS DE MULHERES QUE ABORTAM E DE INTERFERÊNCIA RELIGIOSA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE SÃO PARA TODAS AS PESSOAS, DE TODAS AS CRENÇAS, RAÇAS, CORES, DESEJOS E FORMATOS.
Visivelmente, as pessoas também esquecem de que o papa não é apenas um líder religioso, ele é ainda um chefe de Estado e estava aqui por motivos sociopolíticos. Contudo, e obviamente, ele não abriria mão de seus compromissos com a comunidade religiosa já estando por aqui, pois uma coisa não impediria outra.
Em suma, o Estado Laico deve coexistir com as religiões que ele mesmo abriga, mas nunca deve dar espaço para lideres de qualquer crença intervenham em tomadas de decisão referente ao direcionamento da sociedade - se a dita intervenção for de base religiosa.
Por fim, sejamos racionais, se não assumiremos o posto de intolerantes que um dia condenamos com tanta convicção e se você não entende pelo o que está lutando, não lute!
Por Jeferson dos Santos
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